Publicidade
Publicidade

Você sabe o que é ser Progressista? Informe-se

Publicada em: 12/09/2022 10:16 - -destakMS

“Fazer aborto deve ser um direito da mulher. A mulher deve ter o direito de usar roupa curta sem ser incomodada. Os negros ainda sofrem preconceito no Brasil. A polícia é mais violenta com os negros do que com os brancos. Cotas são uma boa medida para fazer com que os negros entrem na universidade. Dois homens devem poder se beijar na rua sem serem importunados. A escola deveria ensinar a respeitar os gays. Deveria ser permitido aos adultos fumar maconha.”

Estas são algumas das frases que ilustram as principais questões progressistas no debate público do Brasil de hoje, de acordo com os pesquisadores Esther Solano Gallego (Unifesp), Pablo Ortellado (USP) e Márcio Moretto (USP).

É possível que você já tenha se deparado com uma ou mais dessas ideias em redes sociais ou em discussões sobre política. Mas para entender a origem dessas questões e sua influência, é preciso compreender primeiro o que é o progressismo e quem são os progressistas.

Para início de conversa, há muitas divergências entre os pesquisadores sobre o conceito de progressismo. De modo geral, tanto no Brasil como em outras partes do mundo, o termo progressista é usado tanto para se referir a pessoas que têm ideias de esquerda, quanto para classificar militantes que defendem bandeiras ligadas aos movimentos feminista, LGBTQ+, negro, ambientalista ou pró-descriminalização das drogas, entre outros.

Mas mesmo essa definição não engloba todas as nuances que o tema tem no debate político, que merecem ser melhor analisadas.

Quem são os progressistas?

Primeiramente, nem todo mundo que se considera progressista (ou que é chamado de progressista por adversários) defende todas as ideias listadas acima.

Há, por exemplo, evangélicos progressistas, liberais progressistas, socialistas progressistas e, por que não, até conservadores progressistas, uma corrente que tem afinidades com preceitos da democracia cristã. Por isso, alguns especialistas evitam identificar o progressismo como algo de esquerda ou de direita.

Além disso, esses progressistas, obviamente, não são apenas eleitores. Há pelo menos dois pré-candidatos à Presidência em 2022 que declaradamente defendem ideias que classificam como “progressistas”.

Lula, ao anunciar sua pré-candidatura, falou em uma “união progressista” de seu partido, o PT, com PCdoB, PV, PSB, PSOL e Rede.

Ciro Gomes, candidato à Presidência pelo PDT, se descreve como sendo progressista e de centro-esquerda, e não como de esquerda, “porque sei que a transformação necessária e possível ocorre passo a passo, longe de fantasias revolucionárias”.

Essa ressalva feita por Ciro aparece bastante nos estudos de especialistas. Em geral, eles afirmam que progressistas, ao contrário dos conservadores, defendem a transformação social por meio da ampliação dos direitos civis, do reconhecimento das identidades e da inclusão social por meio da distribuição da renda (como o Bolsa Família). Mas justamente sem recorrer à revolução propriamente dita, como defendem ideologias como o socialismo.

Por isso, costuma-se dizer que governantes progressistas da América Latina, como Lula, Cristina Kirchner e Evo Morales, fizeram parte não de uma onda vermelha (cor associada ao comunismo), mas sim de uma onda rosa (ou seja, nem tão vermelha assim). E por ficar “no meio do caminho”, esses governos acabaram cheios de contradições.

Pesquisadores citam outros termos usados para descrever esses governos ou líderes progressistas latino-americanos do fim dos anos 1990 até meados dos anos 2010, como “pós-neoliberais”, “neodesenvolvimentistas” ou “social-liberais”.

Como surgiu o progressismo? Ele é de esquerda ou de direita?

Mas onde e quando surgiram os progressistas? Há quem diga que a oposição entre conservadorismo e progressismo remete, pelo menos, à Grécia Antiga. Mas esse embate ganhou força mesmo nos últimos séculos.

O cientista político e professor Marco Aurélio Nogueira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em debate em 2018 na Fundação FHC, explicou que o conceito de progressista mudou ao longo dos séculos. No século 18, durante o Iluminismo, ser progressista defender a prevalência da ciência e do indivíduo.

No século 19, o progressismo se associou ao liberalismo democrático (com a defesa da democracia) e ao socialismo (com a defesa da igualdade). Já no século 20, os progressistas se aproximam da ideia de direitos humanos e sociais.

Falaremos mais abaixo sobre o qual o significado deste progressismo no século 21. Mas antes é importante entender como o progressismo passou a ser associado à esquerda e o conservadorismo, à direita.

Segundo o pesquisador Frederico dos Santos (USP e UFMG), em artigo sobre o tema, a direita tende a ser mais conservadora porque sua visão de mundo considera natural a desigualdade entre os homens. Já a esquerda, por sua vez, tende a ser mais progressista porque busca mudar as estruturas para reduzir essas desigualdades.

Mas a contraposição entre conservadorismo e progressismo se torna mais formal e representativa a partir dos séculos 18 e 19. Ou seja, na época em que surgiram os nomes populares das duas principais tendências políticas que passaram a dominar o mundo: a esquerda e a direita.

Em meio à Revolução Francesa, houve um debate em 1789 na Assembleia Constituinte sobre quanto poder a monarquia deveria continuar tendo. A discussão foi tão acalorada e apaixonada que os adversários acabaram estrategicamente localizados na sala segundo as suas afinidades.

Nas cadeiras localizadas à direita do presidente da Assembleia, o lado da nobreza, sentaram-se os integrantes da ala mais conservadora. Eles eram os leais à Coroa, queriam conter a revolução e defendiam que o rei de então — Luís 16 — conservasse o poder e o direito ao veto absoluto sobre todas as leis.

Do lado esquerdo, ficaram os que defendiam os ideais republicanos que guiavam a revolução. Eles eram os mais progressistas na sala, os que clamavam por uma mudança radical de ordem. O rei só deveria ter direito a um veto suspensivo. Ou seja, se ele não concordasse com um projeto de lei, ele poderia suspender o processo por um certo tempo, mas não poderia interrompê-lo ou cancelá-lo definitivamente. Na prática, isso significaria o fim do poder absoluto do monarca.

Os conservadores foram derrotados nessa disputa, e o rei Luís 16 perderia todo seu poder, sendo executado na guilhotina em 1793.

Mas, desde a Revolução Francesa, as palavras “esquerda” e “direita” acabaram perdendo muito do significado original e passaram a ser substituídas por algumas pessoas por outra dupla de palavras: progressistas e conservadores.

Em linhas gerais, o Dicionário Conciso de Política de Oxford afirma que o conservadorismo é “uma filosofia política que aspira a preservação do que pensa ser o melhor na sociedade e que se opõe a mudanças radicais”. Mas os conservadores não chegam a um consenso sobre como e o que eles querem preservar.

Os progressistas passam por debates parecidos. O progresso é em relação ao quê? Em que direção? E para onde? Assim como no caso do conservadorismo, as respostas dependem do lugar, do momento histórico e de quem está falando.

BBC News

Compartilhe:
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade